Tocofobia: Quando o Medo de Engravidar se Torna um Problema Real
O temor da gestação e do parto
Enquanto algumas mulheres sonham em engravidar, para outras, a simples ideia da gestação já desperta ansiedade extrema e até crises de pânico. Esse medo intenso e irracional de engravidar e parir é chamado de tocofobia.
A publicitária Caroline Roxo, de 28 anos, conta que o medo de uma gravidez a acompanha desde a adolescência. “Sempre tive pavor só de imaginar a possibilidade. Cheguei a ter crises de ansiedade por isso. Eu esperava que esse medo fosse diminuir com o tempo, mas nunca aconteceu”, relata.
Esse receio também impactou sua vida amorosa. Caroline namorou pessoas que desejavam ter filhos e acreditava que sua vontade de ser mãe surgiria com a maturidade. Mas, aos 28 anos, ela percebe que o instinto materno nunca apareceu. “Acho que preciso procurar ajuda para entender essa rejeição à maternidade. Quanto mais o tempo passa, mais percebo que não quero ser mãe”, afirma.
Como a saúde mental pode ser afetada
A estudante Ana Beatriz Nóbrega, de 21 anos, já faz acompanhamento psicológico para tratar sua ansiedade generalizada e, na terapia, também trabalha o medo intenso da gravidez. “Sempre tive crises associadas à ideia de engravidar. Sofro de síndrome do ovário policístico e minha menstruação é desregulada, o que me faz entrar em pânico muitas vezes. A possibilidade de uma gestação me paralisa”, conta.
O medo excessivo de engravidar pode interferir na rotina e gerar sintomas como insônia, estresse e até transtornos de ansiedade severos. Segundo a psicanalista Dra. Andréa Ladislau, esse medo pode estar ligado a experiências traumáticas, como abuso sexual, perdas gestacionais, relações tóxicas ou vivências familiares difíceis.
Os riscos de atitudes impulsivas
Para evitar uma gravidez, algumas mulheres com tocofobia recorrem a métodos inseguros e prejudiciais à saúde, como uso excessivo da pílula do dia seguinte, consumo de chás abortivos e até restrição da vida sexual.
A administradora Luara Lua Pereira, de 31 anos, já tomou diversos chás para tentar adiantar sua menstruação, enquanto Mirella Ferreira, de 21 anos, consumia pílulas do dia seguinte sem necessidade, apenas para garantir que não estava grávida.
A psicanalista alerta que essas práticas podem causar desequilíbrios hormonais, intoxicação, mutilações e até risco de morte. Além disso, a desinformação pode gerar mais ansiedade e alimentar o medo irracional da gestação.
Nem toda mulher deseja ser mãe — e tudo bem
Nem sempre o medo de engravidar significa um transtorno psicológico. Algumas mulheres simplesmente não desejam a maternidade, e essa escolha precisa ser respeitada.
A jovem Rafaela Monteiro, de 23 anos, por exemplo, decidiu que não quer ter filhos e aguarda ansiosa pela sua laqueadura. “Eu não confio em métodos contraceptivos e só vou conseguir viver tranquila depois de fazer a laqueadura. Não quero mudar de ideia, não quero romantizar a maternidade”, afirma.
Rafaela e Caroline destacam que a sociedade ainda impõe a ideia de que a felicidade da mulher está atrelada ao casamento e à maternidade. “Se um homem decide não ser pai, ele não é julgado. Mas, se uma mulher faz essa escolha, ela é questionada e criticada”, comenta Caroline.
É possível superar a tocofobia?
Para quem deseja engravidar, mas sente medo, há tratamento. A psicanalista Andréa Ladislau recomenda terapia e acompanhamento obstétrico para entender a origem do medo e desenvolver um olhar mais positivo sobre a maternidade.
“O autoconhecimento é essencial. Quando a mulher entende suas emoções e recebe informação de qualidade, ela consegue lidar melhor com seus medos e tomar decisões com mais segurança”, finaliza a especialista.